Perdoai a minha ausência, mas tenho tido, efectivamente, muito que fazer.
Aproxima-se o fim-de-semana e o primeiro trabalho. Muito simples, nada por aí além, até convenci a gerente aqui do estaminé a deixar-me filmar aqui, o que dá um óptimo décor, ainda que estejamos limitados ao cinema mudo e a preto e branco. Mas são óptimas maneiras de começar.
A nível de aulas, a evolução tem sido boa, terça-feira estivemos em experiências com a câmara, a nível de focus, exposição, etc. Ainda filmámos uma cena à Bruce Lee, recorrendo aos meus profundos conhecimentos da arte. Foi uma bela tarde.
Ontem fui, pela primeira vez, beber um copo ao centro (Sunset Boulevard). Isto, porque hoje só entro as 14h. Fui a um sítio chamado Chateau Marmon (http://www.chateaumarmont.com/ - Deliciem-se). É um hotel, com um bar lá dentro e um bar/restaurante no seguimento da rua). Muito bom mesmo. Tive pena de não ter ido jantar, tinha tudo óptimo aspecto, gente gira, boa música. Fui com 3 "coleguinhas" de turma.
E já que o Dvd descreveu tão vivamente a sua turma e não querendo eu ficar atrás, aqui vai. A minha turma é muito multi-cultural e tudo muito afável e dado à socialização, o que é óptimo. Temos pessoas dos mais variados sítios, desde o México ao Japão, com passagens por Espanha, Filipinas, Brasil, Russia, E.U.A., Colômbia (nice!), Egipto (also nice!) e provavelmente mais alguns que agora não me lembro.
A turma foi dividida em grupos, e esses vão ser os grupos de trabalho para os nossos projectos. O meu grupo é até muito bom, temos o Nathaniel, que é um "Local", licenciado em Literatura. Muito no seu próprio estilo, mas com uma óptima onda e uma cultura que se extende inacreditavelmente. (já volto a este sr). Um russo, também ele muito culto, mas já a atingir o "estranho". (O Dvd fez questão de frisar o cabelo dele e fazer umas quantas referências homosexuais). E um mexicano que parece tudo menos isso. Meio aloirado, branco como um copo de leite. Queria ser actor e está a experimentar "The dark side" agora. Mas muito porreirinho também.
O Português é, sem dúvida, um elo comum. Fala Inglês, Espanhol, Brasileiro e só não fala Russo porque não deixam.
Mas voltando à noite de ontem, nem tudo o que começa bem, acaba igualmente bem. Infelizmente, na transição do bar/restaurante para o bar do hotel (que em tempos áureos foram apartamentos habitado por várias celebridades, can you imagine it?), o Nathaniel perdeu a mala dele, onde tinha documentos, chaves do carro (um lindo Alfa Romeu spider dos antigos, que carro!) e o bloco de notas. Realço que, para pessoas como nós, um bloco de notas é uma vida inteira. As chaves, documentos e tudo o mais, é substituivel, as memórias... Not so much. Percebi perfeitamente o desespero, custa sempre. Mas em situações como esta é que se conhece uma pessoa. E os outros dois (Sam, o Russo do meu grupo e Letícia, Brasileira da minha turma), mostraram-se à altura e cheios de carácter. E admiro isso numa pessoa. Ficámos horas à espera a ver se um "key-maker" conseguia ligar o carro, porque, caso contrário, seria rebocado. Estivemos horas no carro à conversa e, infelizmente, até deu para "zanga". Ora, o problema está, quando um brasileiro começa a divagar sobre origens de língua e acordos luso-brasileiros. Como é evidente, não pude ficar calado. Quanto mais não fosse, por respeito a uns quantos desconhecidos e de pouca importância, como Pessoa, Camões, Gil Vicente, entre outros (não José, não estás incluído na lista). Exagerei um bocado, sim, mas os atentados à minha língua têm sido desmedidos e isso não deveria nunca passar impune. "Calinadas" diárias, acordos ortográficos e meia população analfabeta. Inadmissivel. Mas tudo se resolveu, mais ou menos e passará com certeza impune. Até porque, quando discuto com alguém, é porque acho que merece o meu tempo e confesso que a atitude da menina ao longo da noite foi de louvar.
Chegadas as 2h da manhã, o Nathaniel disse para nos irmos embora e eu, como é evidente, fiquei com ele. Never leave a man behind. Sempre foi um bom lema.
Ficámos então os dois, ao frio, durante duas horas e conhecemo-nos um pouco melhor. Da tragédia, até saiu algo bom. Infelizmente, não se conseguiu fazer nada em relação ao carro e apanhámos um táxi para casa.
Foi uma noite atribulada, mas serviu para conhecer melhor três pessoas e isso, por si só, foi um bónus.
Hoje espero ter um round two neste confronto luso-brasileiro, mas bem mais pacífico e melódico, assim o espero.
Por agora é tudo, hoje é dia de casting, amanhã preparam-se os filmes e domingo e segunda filma-se.
Juízo por essas terras,
F.
